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Page d'accueil - liste des articles - Débat - Conférences - Dernières mises à jour - Séminaire - Liens O órgão cartel* Lacan cria um mito para dizer o retorno ao real da libido: o mito da lamínula (lamelle) (1). Este mito vem no lugar do aquele de Aristófanes (2): o sujeito não perde aí sua metade sexuada, mas uma lamínula ameboide; não por ter desafiado os deuses, mas por ter nascido no campo do Outro; o mito não é mais do Um, porém do Outro. Neste texto, Lacan chama "órgão", ou mais ainda, "falso órgão" da libido, isto que vem em posição de equivalente da libido perdida, e simboliza todas as formas enumeráveis do objeto (a). Ora, Lacan designa o cartel com o mesmo termo: "órgão". Este emprego é por acaso? Certamente não: o termo é usado em 1964, ano da fundação da EFP e da invenção do cartel, ano também em que também cria seu mito; o mesmo termo é ainda retomado em 1980 (3). Minha hipótese então é esta: o termo "órgão" é transposto da lógica subjetiva à teoria de grupo; para o grupo como para o sujeito, ele reenvia à parte de libido perdida; o cartel é assim o instrumento próprio para condensar a "lamelle" perdida do grupo analítico; é de alguma maneira seu pequeno (a); ela permite ao sujeito sustentar uma outra relação que não a identificatória que opera no inconsciente. O objeto caído do grupo Considerando a historia a partir desta hipótese, percebemos que o cartel sempre foi um objeto caído no momento da separação do grupo, que ele é o efeito da introdução do discurso analítico no grupo. Observemos: 1) A invenção do cartel é consecutiva à "excomunicação" de Lacan; é no ato de separação que nasce o cartel, "órgão de base". 2) É no momento em que se dissolve a EFP que o cartel renasce se afinando a isso. 3)É, igualmente, no momento em que a AMP é massa de peso nas suas cinco Escolas, que renasce logicamente uma interrogação de Escola sobre o cartel. Jacques-Alain Miller sublinha o peso da tradição do curso magistral nas escolas sul-americanas, a apetência do grupo analítico pelo líder carismático, a falta de entusiasmo pelo cartel (4). Sublinhemos aqui a constatação da tendência espontânea da associação a se fazer grupo (5), retorno do Mesmo (6). O "Espectro do Mesmo" justifica a elaboração atual. Porém necessidade não é suficiente: é preciso se dar meios articuláveis na estrutura. Massa e cartel O desinvestimento do cartel, quando ele se produz, é correlativo da massificação do grupo. O cartel é desinvestido quando fracassa na sua função dissolutória, turbilhonaria. Diagnóstico: doença do cartel? Não, é de preferência "doença normal do grupo". Diminuir o número de cartéis desequilibra, portanto, em benefício do grupo. Em sua tendência espontânea -Massenpsychologie-, o coletivo, seja ele analítico, é recalcitrante ao inconsciente. Ele "organiza" sua causa tal como as massas, isto é numa relação amorosa ao chefe ou a um valor ideal que se substitui ao objeto perdido, o que eqüivale à hipnose. A relação libidinal ao objeto perdido (a), seja aquilo que do real retorna, é ali mascarada, vista amavelmente vestida de um imaginário i(a), eu-ideal sustentado pelo Ideal do eu I(A) (7). Em suma, o grupo psicanalítico "organizado" se opõe à praxis analítica, se esta é suposta dissipar os vapores da sugestão para demonstrar o real. Escolha forçada então: dissolução do grupo ou dissolução do inconsciente? A problemática da libido transposta do sujeito à associação apreende a mola do cartel: a extensão da psicanálise, é a questão do inconsciente ao coletivo. Ora, a associação, por efeito de grupo (=por estrutura), metaforiza a causa inconsciente na sua relação ao líder ou ao ideal. Daí o interesse de definir as estruturas "ao lado", metonímicas ao grupo, de onde se determine um "mais de aptidão" para elaborar o inconsciente. Como o desejo do analista em posição de semblant, isto é, de objeto (a), sacode o analisante do seu torpor identificatório, é preciso que o cartel por efeito de retorno jogue na instituição seu papel de falso-órgão introduzindo um turbilhão no que de outro modo se sedimenta, se fossiliza, se desseca antes de se fragmentar, tudo isso muito rapidamente, como testemunha a historia das sociedades analíticas. Em "D'écolage" Lacan equivoca sobre "cola" e "escola", emprega metáforas da dissolução e da intoxicação pela cola no que se refere a EFP. A "Associação contamina a Escola", lemos a propósito de um exemplo preciso, recente (8). Sobre a atual reforma dos cartéis (no seio da Escola da Causa freudiana) A partir destas considerações, vemos em que a recente criação de cartéis de endereçamento e de laço é excelente: ela aumenta a superfície da "zona erógena do grupo" apropriada para que sua atividade pulsional faça a volta dos cartéis (a). Inversamente, é judicioso puncionar seu "reservatório de libido" pela diminuição "un-posée" do número de cartéis? A repetição do "Um" (um cartel, um ano, investimento do mais-um) não é sintomática? Não é demasiado centralizador? Ainda mais, a estrutura assim criada não peca por um excesso de arborescência? Pelo fato da unicidade do cartel, os laços de elaboração na base não correm o risco de se relaxar (9)? É embaraçoso que os CAL não tratem tudo? Diminuindo o número de cartéis, o problema não se resolve. Um exemplo: este ano, os dois terços do meu trabalho não puderam se inscrever em cartel: uma parte foi declarada ao modo EFP: Seminário-grupo sobre a prática clínica; a outra, não: o ensino da Antenne clínica Aix-Marseille não pode se elaborar em cartel. É um efeito direto da reforma. O trabalho se faz de qualquer modo, porém fora da estrutura do cartel, e não interessará pois os CAL. Este efeito foi percebido? A função do Mais-Um A construção lógica do cartel em forma de um mais-um faz com que não haja no começo um traço fazendo certamente causa comum: o mais-um é, de início, formal antes de ser qualquer um. Como o cartel não oferece em princípio identificação pacificante, cada sujeito é levado ao trabalho de ter que preencher com achados esta ausência (10). Em continuação do debate recente sobre a função do Mais-Um (11): o aperto de seu laço ao grupo favorece as conexões e o efeito de refundição esperados? Um mais-um lingüista, pintor, matemático, filósofo, etc., vai se implicar no funcionamento institucional da Escola? Que ele faça a declaração de cartéis já é muito. Isso não vai conduzir a orientar a escolha do mais-um num sentido mais "acadêmico"? Conclusão A instituição tem uma tendência espontânea para colocar o cartel sob a mesma tecla: é normal, é lógico. Pelos testemunhos deste papel de (a), núcleo de elaboração, valorizado, mas também de dejeto, notemos a tendência demonstrada pela EFP a recalcar, minimizar seu lugar e seus produtos. A ECF, enquanto que contra-experiência deve sustentar de outro modo sua causa cartel. A função do cartel na sua relação à associação deve ser examinada na mesma relação lógica que a que o objeto (a) mantém com o simbólico, e nas mesmas relações que as operações de alienação e separação do inconsciente. Pode fazer então contrapeso à carga libidinal da instituição que amassa seus sujeitos sob o peso das identificações. Fenômeno inscrito, chamamento expresso, num fato de estrutura de grupo somente (12). Para isto, é preferível que o cartel continue a se inscrever num laço metonímico à instituição, num dos seus "lados"; sua influência deve permanecer discreta. Ele deve guardar qualquer coisa de heteróclito na sua relação com a instituição. Digamos que ele deve poder "excomunicar" (13) com ela para "descolar a Escola" e não "colar o acólito". O cartel é mais propício à elaboração que o grupo. O nada constituinte do cartel é o agente necessário para elaborar alguma coisa do discurso analítico (14) (a--->$). Ele pode preservar a enunciação de cada um "no que ela tem de ocasional, de singular, e também de deslocada" (15). No grupo, este "nada" se apaga, o vimos, o vemos. *texto traduzido por Marcela Antelo e revisado por Sônia Magalhães ____________________ BIBLIOGRAPHIE 1) Lacan, J. Le Séminaire, livre XI, ch. XV, p. 171-182, Seuil . 2) Platon: Le Banquet, in Oeuvres complètes, p. 715-722, La Pléiade. 3) Lacan, J. "D'Écolage", 11/3/80, Ornicar? 20-21, p. 15: "...je démarre la Cause Freudienne- e restauro em seu favor o órgão de base retomado da fundação da Escola...o cartel, onde, experiência feita, eu afino a formalização..." 4) Miller, Jacques-Alain. "Le cartel dans le monde", La Lettre Mensuelle, 134, Dec.94, p. 3-5. 5) Lacan, Jacques. L'Étourdit, Scilicet, Seuil. 6) Miller, Jacques-Alain. "L'oubli de l'interprétation", La Lettre Mensuelle, 144, Déc.95, p. 1-2. Estes dois textos da Lettre 134 e 144 são aqui postos em relação. 7) Coccoz, Vilma. Actualité espagnole: le cartel, l'École, La Lettre Mensuelle, 93, nov. 90. 9) Cf. A cadeia do produto: cartelizante-->mais-um--> cartelizante do CAL--->mais-um do CAL--->instância da Escola--->retorno. Por outro lado, na base, se cada um não trabalha mais que em um cartel, por ausência de interseção de cartéis, daí isolamento, não há propagação lateral dos significantes do trabalho de cartel a cartel, a mediação do trabalho se fazendo forçosamente por reuniões oficiais. 10 ) Coccoz, Vilma: Actualité espagnole: le cartel, L'Ecole, La Lettre Mensuelle, 93, nov. 90. 11) "Qu'attendre du plus-un" La Lettre Mensuelle, 144, Déc. 95. 12) A obscenidade imaginária, efeito real do grupo, reenvia o não simbolizado ao corpo e transfere uma falta estrutural em "problemas de pessoas". 13) Lacan, Jacques. Séminaire XI, Ch. I, Seuil. 14)Este trabalho foi elaborado e sustentado em cartel, onde o mais recente compreende: Ghislaine Delahaye, Marie-Pierre Girard, Muriel Mosconi e como mais um André Astier (matemático e membro da ACF Aix Marseille). __________________ [an error occurred while processing this directive] |